O Museu Nacional de História Natural e da Ciência recebe o Seminário “Da Natureza ao Museu. Naturalistas e exploradores nos séculos XVIII e XIX”.
Um encontro que é uma oportunidade para ouvir o Professor Rafael Sagredo, Prémio Nacional de História 2022 do Chile e para aprender e debater com o seu conhecimento sobre os naturalistas e exploradores no continente americano no final da modernidade.
Mas este encontro não quer apenas centrar-se no Chile e no continente americano, quer fazer uma ponte com o nosso país e também com o presente, com a ciência, os objetos e os museus. Ouvir contribuições de colegas nacionais que refletem também sobre a constituição das coleções e dos museus. Terá o museu efetivamente evoluído diretamente das Câmaras de Maravilhas para os Museus Nacionais? Terá sido a arte o motor? Que papel teve a ciência? Ou até a passagem dos reinos para nações que levaria, no século XIX, à transformação da própria História e à criação da Arqueologia enquanto disciplinas dirigidas pela cultura material, que viriam a alimentar uma conceção científica de Museu.
Não obstante, há muito que os historiadores, cientistas sociais e das humanidades, investigadores artísticos e artistas portugueses recorrem a narrativas, atividades de mediação e meios de comunicação dirigidos para públicos não académicos, que se sucedem as celebrações cívicas oficiais, os projetos de base comunitária, participativa, educativa e de história oral levados a cabo em arquivos, museus, associações e movimentos sociais, assegurando a progressiva socialização da produção do conhecimento histórico. Por outro lado, a História Pública tem potenciado o trabalho interdisciplinar, possibilitando o cruzamento de metodologias e formas de conhecimento que conduzem a reinterpretações, entendimentos históricos e formas de relacionamento com os públicos originais. São prolixas as experiências envolvendo novas linguagens e tecnologias, métodos colaborativos, públicos diversos e/ou sub-representados. Desenvolvem-se projetos partilhados em torno de passados difíceis ou memórias conflituais, diversificando-se os processos e as práticas sociais de construção de património material e imaterial, de recolha de testemunhos e documentos históricos, potenciando a construção de novas identidades sociais.
Abstract:
O Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC | Museus da Universidade de Lisboa) detém inúmeros tesouros. No que se refere às coleções angolanas, coletadas pelo austríaco Friedrich Martin Joseph Welwitsch (1806-1872) estes tesouros têm permanecido silenciosos. Para além das coleções de história natural resultantes da expedição Iter Angolense (1853-1860), consideradas ainda hoje as melhores coleções de flora tropical africana nas zonas onde coletou em África (quer pela sua qualidade, estado de conservação e quantidade de espécimes), no MUHNAC encontra-se parte da biblioteca científica e pessoal de Welwitsch e que compreende um total de 198 volumes. Entre estes livros existe a Synopse Explicativa das Amostras de Madeiras e Drogas Medicinaes, com anotações pelo punho de Welwitsch. Trata-se de uma publicação que teve como objetivo a descrição de “objectos” coloniais provenientes de Angola que estiveram expostos na secção portuguesa durante a Exposição Internacional de Londres em 1862. No entanto, a Synopse não se trata somente de uma lista de “objectos” de história natural. Publicada por Friedrich Welwitsch (1862) compila os usos e costumes relacionados com a flora de Angola e reflete alguns casos de “cross-cultural encounters” que permitiram a aquisição do conhecimento local pelos naturalistas europeus. Welwitsch, membro da comissão governamental tinha como missão a preparação de amostras de objetos da representação portuguesa, em particular a 5a secção (produtos dos territórios ultramarinos), visto que tinha estado em Angola durante o Iter Angolense. Nesta comunicação, pretende-se dar visibilidade a estas coleções, assim como revelar os vários atores envolvidos na preparação das coleções. Embora se tenha escrito bastante sobre o botânico austríaco, a história de Welwitsch necessita de ser revista face às novas tendências da História da Ciência. Tendo isso em vista, no Projeto KNOW.AFRICA | KNOWledge networks in 19th-century AFRICA: A Digital Humanities approach to colonial encounters and local knowledge in the narratives of Portuguese expeditions (1853-1888) (ref. FCT – 2022.01599.PTDC), pretende-se para além da expedição Iter Angolense, analisar as invisibilidades nas expedições de Capelo e Ivens e Henrique Carvalho.